Sunday, February 24, 2019

Bias num valvulado

Post 62 - Descobrindo as condições de uma válvula

  Ajuste de bias

  Isto já é mais que explicado na internet mas não custa explicar como faço pois é desse modo que consigo diferenciar qual válvula está melhor por comparação entre varias válvulas de mesma marca.

  Em um amplificador de bias fixo (o quem tem um timpot pra ajustar a tensão negativa) primeiramente sem válvulas nos soquetes ajusta-se o trimpot para tensão mais negativa que o trimpot permitir.

  Coloca-se então as válvulas (como o amplifidador desligado é claro) liga-se e mede-se a tensão obtida em cima dos resistores de 1Ω conectados nos catodos. Como o resistor é de 1Ω a tensão mostrada será o mesmo valor da corrente. Se valores forem iguais nos catodos de cada uma será uma grande sorte pois elas estarão quase perfeitamente casadas (quase porque depende da igualdade dos dois enrolamentos do primário de um trafo push-pull).

  Dai então é só ajustar o trimpot até obter a corrente desejada para o circuito.

  Em amplificadores que os catodos estão conectados direto no terra é preciso colocar dois resistores ali e podem ficar lá (na realidade estes resistores não são necessários no circuito, é só para medir).

  Depois de ajustado a corrente mede-se a tensão negativa que ficou valendo no trimpot (entre o cursor e o terra).

  Comparando válvulas sem testadores

  Aqui será usado como exemplo a válvula EL84 (6BQ5) ou a 6N14P que é a versão russa (usei estas que são mais baratas e tenho muitas). O ideal é ter pelo menos uma novinha para comparar mas se só tiver usadas dá pra saber quais estão melhores.

  O teste foi feito no amplificador da montagem anterior e usei um trafo de saida com carretel dividido ao meio, isso dá mais precisão nas medidas pois o primário fica com medida de resistências iguais nos enrolamentos. No entanto o trafo que expliquei no post 57 o enrolamento é simples um sobre o outro e dá uma pequena diferença mas não afeta muito a comparação.

  Supondo que num par de válvulas foram medidos os valores de 36mA em uma válvula e 28mA na outra sendo que a tensão no cursor do trimpot ficou em -11V com um +B de 300V. Logicamente se ajustar mais negativa a tensão no trimpot os valores de correntes cairão, e menos negativo (bias mais quente) as correntes aumentarão por igual.

  A medida que ajusta-se o bias mais quente (digamos -8V ou menor) mais se estressam as válvulas até um ponto em que a corrente dispara em uma delas (ou nas duas) e esta começa a envermelhar a placa (seja a válvula nova ou usada). Nunca aconselho uma tensão menor que -8V numa EL84.

  Entre as duas comparadas a válvula que se mediu 36mA (com os -11V) está teoricamente em melhor condição pois a que mediu 28mA precisaria que se esquentasse mais o bias para ela atingir os 36mA.

  Assim, em cada par de válvulas para uma determidada tensão negativa para todas (digamos -10V), sempre a que se ler uma medida de corrente mais alta estará em melhor condição de vida na sua placa (no anodo). Para se casar cada par é só ir retirando e trocando uma de cada lado até achar as que combinam em medidas aproximadas. Da bastante trabalho e bastante liga e desliga amplificador mas o casamento feito desse jeito fica mais perfeito do que em testadores de válvulas.

  Os parâmetros dos testadores de válvulas são o percentual de desgaste e o valor de transcondutância que deve ser próximos entre um par casado, mas na maioria dos casos as tensões de referência nos testadores não são as mesmas do amplificador real onde está sendo usadas as válvulas.

  Acontece por exemplo de um testador indicar válvula boa e quando põe no amplificador esta válvula começa a envermelhar placa pois a condição de trabalho a que está sendo submetida não é a mesma.

  No exemplo dado (28 e 36) não estariam casadas mas funcionariam perfeitamente bem sem diferença sonora num amplificador de guitarra. Até uns 3 ou 4 miliamperes de diferença (por exemplo 32 e 36) poderia se considerar casadas. Para se notar alguma distorção no som a diferença deveria ser muito maior (tipo 21mA e 36mA) em válvulas de mesma marca.

  Depois de mais ou menos casados os pares, deve-se deixar cada par ligado por um tempo pois algumas válvulas costumam estar boas nos primeiros 15 minutos, depois uma delas pode começar a subir a corrente nela aos pouquinhos lentamente e depois de um certo valor alto (acima dos 55mA numa EL84 por exemplo) ela começa a disparar e subir mais rápido a corrente nela (e chupando a corrente da outra que está boa) até envermelhar a placa. Significa que ela não aguenta tensão de placa a que está submetida (pode ser que num amplificador que utilize um +B menor ela ainda aguente por um tempo mas já está no seu fim de vida). Por isso os testadores de válvula enganam muitas vezes.

  “Teoricamente” (entre parêntesis porque já viu né, a realidade é tão outra que nem teoricamente vale) a potência aproximada obtida no exemplo seria:

  P = V x I assim P = 300V x (0,028 + 0,036) = 19,2W considerando 70% da potência (usual no cálculo de um amplificador valvulado).

  19,2 x 0,70 = 13,44W  em duas válvulas juntas e sem contar a perda no trafo.

  Uma EL84 dissipa 12W assim com 300V a corrente em cada válvula jamais poderia ser superior a 40mA pois:

  40 + 40 = 80mA = 0,080A e 300V x 0,080 = 24W (12W em cada uma), se colocar mais amperagem na regulagem elas aquentam mas a placa vai pro saco cedo.

  No caso do exemplo dado a válvula que está com 0,028A a tendência é sofrer um desgaste um pouquinho mais rápido com o tempo (mas a diferença é mínima, pode ser que outra até queime primeiro).

Obs: Pode-se estimar o cálculo da potência de uma outra maneira se for conhecida a impedância do primário do trafo de saida, isto ainda será outro assunto que provavelmente farei comparando com o cálculo da potência de um transistorizado. Logicamente se tiver um osciloscopio, injetor de sinal, múltimetro e o amplificador já pronto podendo ser ligado, ai então com essa parafernalia toda dá medir tudo e ter um cálculo mais preciso.


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